31.7.10

Sussurro póstumo


Eu não sou nada além de um fantasma vagando na penumbra dos dias, sugando a vitalidade das lembranças. Lembranças que foram esquecidas com o passar das décadas e substituídas por um lixo barato chamado paixão... Elas se perderam no limiar de anos enganosos, cujo único suspiro remanesce no sopro gelado do vento do abandono.
Abandono esse que sinto no buraco onde antes pulsava algo que a tempos já foi devorado pelos vermes.
Caminho lentamente pelo mar de pessoas sem ao menos me importar com o fato de já ter tido uma vida... Observá-las apenas me faz ter repulsa pelo passado que me condena pós túmulo.
Já não sinto mais dor, nem raiva ou alegria. Apenas o vázio uivante batendo fervorosamente no peito sem vida de uma alma errante.
Podem meus pecados serem perdoados?
Posso eu, um anjo decaído merecer o céu?
Acho que a resposta para essas perguntas jamais serão respondidas
Afinal... O que resta a um mero fantasma esquecido com o tempo?
Pó...

25.7.10

Carta de solidão


Tenho chorado horas a fio... Desde que partiu, que saiu do meu pequeno e imundo universo, tenho me dilacerado e me comportado como a criatura mais taciturna e decaidamente deprimida que conheces... Ainda tenho seu cheiro em minhas roupas e na ponta dos dedos. Minhas mãos vacilam no vazio à procura das suas e o tempo que para mim sempre pareceu cinzento, está mais sombrio que de costume... Vejo através de minha janela, a chuva cair lentamente manchando o solo com lágrimas do céu e lembrando-me da falta que me faz... Com a ponta das unhas, acompanho as gotas no vidro frio, arranhando-o até os dedos quase sangrarem. Não me importo afinal à dor em meu peito é maior e mais avassaladora... Fico me perguntando o que deve estar fazendo, se sente minha falta ou respira aliviado por não me ter mais por perto... "Amor... Volta para os meus braços? Por favor... Quero me sentir segura, única e pertencer a alguém de novo" Venho repetindo mentalmente essa frase durante horas. Desde que se foi o frio tem sido minha única companhia, me lembrando o quanto seu calor me faz falta... Talvez eu não devesse ter ficado tão dependente de você, mas assim como uma droga forte, você me embriaga e inebria fazendo-me perder os sentidos e me vicia obrigando-me a desejá-lo mais e mais. Sim, você é minha droga particular, projetada especialmente para mim... Sadicamente criada para me confundir... "Te amo porém te odeio!" - repito aos berros para o vento gélido que corta a penumbra do vazio transmitindo minha dor ao nada. Te odeio por não poder ser sempre meu, mas amo o fato de mesmo assim ser. Pode dizer que sou louca, mas, qual seria a graça da vida se não houvessem os loucos que amam? Minhas forças se esvaíram. Estou largada no escuro esperando seu regresso, enquanto alimento a fina e fraca chama da esperança de que isso realmente acontecerá. Não me julgo merecedora de seu afeto... E sabes disso, não é mesmo? Ás vezes acho que só repito isso, para que diga o quanto precisa de mim... Quem sabe? Apenas quero que venha me resgatar da escura solidão e mais uma vez, torne a me abraçar.