8.6.14

A Floresta do Suicídio




 Caminhou com passos curtos e pesarosos, seus sapatos sujos de lama esmagavam as folhas e galhos no chão enquanto suas mãos tocavam levemente as cascas das árvores em que se apoiava pelo trajeto. Era tão sutil o seu toque que a aspereza dos troncos fazia cócegas em sua mão provocando uma sensação de tranquilidade e paz.

 Andar pela floresta de Aokigahara, também conhecida como Kuroi Jukai (Mar de Árvores), deixava-a calma. Quando pequena, ouviu terríveis histórias sobre o local ser assombrado e ela tinha medo, mas apesar da energia carregada e pesada do lugar, ela se sentia mais calma aos pés do Monte Fuji. Com o passar dos anos, descobriu o real motivo de seus pais não quererem que ela, ou qualquer outra criança se aproximassem de Jukai. É que lá também era conhecido como A Floresta do Suicídio.

 Muitas pessoas vão tirar suas vidas ali, e vez por outra, ela tem a impressão de ver alguém passar por dentre as árvores; talvez seja mais um ser desesperado cansado de sua vida procurando conforto na morte, ou apenas uma alma perdida que não encontrou seu caminho até o Rio Estige, fadada a caminhar eternamente sendo torturada pela a agonia. Mas ela não se importava, apenas gostava do lugar mesmo sem saber ao certo o por quê. Talvez se sentisse mais perto "dele".

  Havia um tempo que ela vinha acampando em Aokigahara. Três dias no máximo? Não sabia dizer, mas também que diferença fazia? Há muito perdera a percepção do mundo e o vazio em seu peito tornara tudo entorpecido e sem sentido, porém, algo dentro dela ainda receava por aquela decisão, por isso amarrara uma fita vermelha pela floresta, caso quisesse encontrar o caminho de volta para casa.

 Cantarolava baixinho uma cantiga de criança como quem não quer perturbar os espíritos que ali descansam, mas também tentando afugentar a tristeza latente enraizada em sua pele e cravada bem fundo no seu coração machucado e cheio de pesar. Chegou à sua barraca e ascendeu a lanterna, ficou alguns minutos sentada batendo nervosamente os dedos nas pernas, até que desistiu e titubeante enfiou a mão dentro de sua mochila agarrando com delicadeza um envelope branco.

 Nele contia fotos dela e de seu falecido namorado, juntamente de uma carta que ele escrevera dias antes de desaparecer em Jukai. Releu pela milésima vez aquelas palavras que já havia decorado e como em todas as vezes o desespero cresceu tomando conta do seu peito. Fartas lágrimas escorreram por seu rosto e mancharam o papel, ela então beijou a carta e a apertou forte contra o coração.

 Eles haviam brigado e ela terminou com ele. Uma briga à toa, mas que o orgulho não permitia voltar atrás, queria torturá-lo um pouco apenas por birra e bateu o pé se recusando a aceitá-lo de volta. Foi quando acordou um dia e percebeu que um envelope havia sido empurrado por debaixo da porta e quando leu seu conteúdo, caiu de joelhos no chão em estado de choque e chorou seu pranto de arrependimento.

 O corpo dele foi encontrado alguns meses depois pendurado em uma árvore. Havia se enforcado e em sua mão estava o anel que ela o presenteara de aniversário. Hoje tendo se passado 2 meses desde o enterro, ela não conseguira encontrar consolo e o sentimento de culpa dilacerava-a, tornando impossível o simples ato de respirar.

 Ela então pegou as pílulas que seu médico receitara para ajudá-la a dormir e engoliu todo o frasco com ajuda de uma das garrafinhas de água que trouxera. Suspirou um suspiro cheio de dor e afastou as lágrimas das bochechas com as mãos, se deitou no colchonete e ficou observando as fotos deles jogadas ao lado de sua cabeça, enquanto tocava a imagem dele com ternura. Não se deu conta quando apagou, não soube quanto tempo levou para ficar inconsciente, não percebeu a vista embaçar nem os olhos pesarem como as pessoas descrevem, não percebeu coisa alguma, apenas uma escuridão que chegou de repente e pareceu durar uma eternidade, depois o rosto sorridente dele surgiu vindo ao seu encontro. Não percebeu que havia partido, apenas se foi...


**Baseado na verdadeira Aokigahara e nas pessoas que vão para lá em busca da sanação de seu sofrimento, essa é minha homenagem a vocês. Espero que de alguma forma saibam que não estavam sozinhas.**




~T.

8.1.14

Amigos







  Eu sei que pode parecer bobo, mas eu gostaria de ter uma daquelas amizades de filme americano. Um grupo de pessoas estranhas e animadas que saem quase todas as noites, passam muito tempo juntas, se divertem, contam tudo umas para as outras, que quando tem um problema resolvem ao invés de ficar de intrigas pelos cantos. Pessoas que não tem medo de dizer que se amam, que não querem tirar proveito umas das outras e que não confundem as coisas. Saem juntas porque se gostam, e não porque estão correndo atrás de um namoro. Sinto falta de ter amigos assim...

  Gosto de imaginar como deve ser ter aquele tipo de cumplicidade que mostram nos filmes, como deve ser ter alguém com quem contar quando você precisar. Pessoas que apareçam no meio da madrugada e te sequestrem para uma festa, ou que fiquem por ai mesmo, sei lá, bebendo na frente da sua casa, conversando na sala ou até dando uma volta monótona pelo parque.

  As pessoas que conheço são muito mesquinhas, interesseiras, infantis e traiçoeiras... Só se preocupam com os próprios problemas e gostam de tentar arranjar problemas para os outros. Não dá exatamente para estabelecer uma relação saudável com esse tipo de gente. Eu admito. Prefiro infinitamente a companhia de um bom amigo à um namorado. Não estou desdenhando das vantagens de um carinho diferenciado, apenas prefiro aqueles que estarão lá por mim quando o "alguém especial" me der um pé na bunda. Sei lá... É chato pensar que nenhum dos meus amigos se importam comigo ao ponto de se preocuparem verdadeiramente.  Ok, eu sei o que vai dizer. Que eu estou sendo ingrata e injusta, que devo dar valor ao que tenho, que não estou enxergando com clareza e blá blá blá. Eu sei que tenho pessoas que se importam comigo, longe de mim dizer que não, mas hoje em dia todos são muito frios e apáticos, olham apenas para seus próprios umbigos.  Eu posso dizer com 100% de certeza que se alguém precisar de mim eu farei de tudo para ajudar essa pessoa, se eu não puder largar o que estiver fazendo para correr até esse alguém, ficarei no telefone tentando ajudar, ou encontrarei alguma forma de dar atenção a quem amo. Digo isso porque já o fiz mais de uma vez, mas não conheço uma única pessoa que faria o mesmo por mim, acredite, já estive várias vezes do outro lado da situação e ninguém ficou ao meu lado.

  Não que você ai se importe, mas era só isso o que eu queria, sabe? Alguém com quem contar. Não estou deixando de levar em consideração que nem todo munto se importa e demonstra da mesma maneira, mas seria legal sentir que tem alguém. As pessoas sempre perguntam qual o maior medo dos outros, e como uma grande fã do Scarecrow, confesso ter uma certa fascinação pelo assunto. Se me perguntassem qual é o meu maior medo eu responderia sem exitar: "Ficar sozinha". Não o ficar sozinha de não me casar ou algo assim, mas o de não ter amigos, família ou ninguém que se importe comigo, e acabar largada sozinha em um apartamento pequeno e me tornar uma Crazy Cat Lady. Rs

  Bem... Creio que ninguém dê a mínima para essa minha lenga lenga, mas antes que reclame que estou bancando a Drama Queen, lembre-se que faço o que bem quero aqui e escrevo o que me der na telha, e no momento sinto vontade de desabafar para um ser imaginário. Sei que tem alguém ai, ou pelo menos espero que tenha e se tiver, que se importe... Emfim. Não desejo que se manisfeste, apenas que leia. Dizem que quando ninguém presta atenção em nós, nos tornamos invisíveis e não quero não existir...

  Sinceramente,




~T.