19.10.10

Memórias


Sentou-se em sua poltrona, virada para a janela, e observou a paisagem por dentre as gotículas de chuva. De sua boca saia uma tênue nuvem de vapor que se prendia ao vidro e embaçava sua visão. Desenhou com a ponta dos dedos algo abstrato tentando se enganar mentalmente com diálogos internos sobre o tempo, quando na verdade, se perguntava se tudo aquilo estava mesmo certo. Se ela não estava apenas tentando se enganar, ou acreditando tolamente nas palavras daquele ser parado na chuva. Talvez fosse apenas uma peça pregada pela ausência, mas como ter certeza?

Apoiou os pés sobre o local onde estava sentada e abraçou as pernas quase que coreografada com o postar do queixo sobre os joelhos. Seus dedos frios enroscavam-se nervosamente contra a pele quente das canelas, fitou as meias por um segundo e notou que seus olhos umedeciam. Esfregou-os na manga preta de seu casaco e voltou sua atenção para o lado de fora.

As folhas se moviam calmas com a brisa e o céu coberto por nuvens cinza apresentava uma face enganosa, não havia ameaça de chuva, mas sabia que nada de bom chegaria. O aroma do incenso invadiu-lhe as narinas e um pequeno e quase imperceptível sorriso se formou, a fumaça adocicada a relaxava e trazia a sua memória imagens que haviam se perdido. Fechou os olhos e deixou que o sorriso crescesse em sua face. Suspirou. “ É apenas coisa da sua cabeça...”

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