Devaneios

Noites frias infundidas em um azul moribundo

Solidão irrefreada que bate na parte mais calejada da urna pulsante

Sangue em minhas pegadas marcadas na neve alva

Um assobio longínquo de um pássaro de outras eras, perdido no espaço contínuo de meus pensamentos eloqüentes.

Quem sois vós a perguntar-me sobre minhas chagas?

Quem sois vós que desaparecera de minha vista enganadora no momento exato que meu coração acelerou-se no susto do achar que não estava sozinho?

Memórias impregnadas na terra, ainda vivas pela forte aura daqueles que por ali passaram

Devaneios de uma jovem com as faces rubras e acaloradas pela bebida

Morte, por todos os cantos mais remotos das ruelas ainda em chamas

Morte dos sonhos, das esperanças, do futuro!

Morte daqueles que abandonaram suas ambições e venderam suas almas para fazerem parte da boiada

Morte daqueles que nunca existiram

Alucinações daquela garota esquizofrênica que ainda não percebeu que seu corpo evanescido repousa inerte nos jardins de pedra polida, onde as inscrições dizem "Sem nome, sem passado, sem ninguém". Sendo a única certeza, uma pilha de ossos esquecidos a mais de duas décadas...

~T.