22.6.13

Insignificância






 Pegou o relógio para ver as horas, mas se esqueceu de realmente olhá-las. Caminhou com as mãos nos bolsos e parte do rosto escondido pelo cachecol, fazia muito frio e o ar gelado feria sua face. Parou por uns instantes em frente a vitrine de uma loja fechada só para analisar seu reflexo, como podia existir tanta tristeza em um só olhar?

 "Você já olhou para cima e se deparou com um céu sem estrelas, e se sentiu tão vazio e insignificante ao ponto de sentir aquela escuridão acima de sua cabeça te tragar e consumir por completo, até não sobrar mais nada? Nem dor, nem sofrimento, nem angústias, mágoas ou corações partidos, somente o nada absoluto e o vazio que o acompanha?" - pensou.

 Continuou sua caminhada para casa passando em frente a um parque, sentiu que aquelas árvores altas e desfolhadas lhe seguiam com olhos invisíveis e tenebrosos, apertou o passo, mas não sentia realmente medo, era apenas o desespero apertando seu peito fazendo o ar lhe faltar.

 Quanto tempo já havia passado? Quanto mais teria que sentir aquilo? Não soube responder, só queria voltar para casa e tomar uma xícara de chá quente, enquanto ainda tinha vontade de algo. Chegou em casa, abriu o registro da banheira, olhou pela janela e observou as luzes das casas se apagarem uma a uma. "Será mais uma longa noite solitária...".



~T.

21.6.13

Tarde demais





 Ele não sabia onde havia errado, e isso o deixava maluco, acreditava que tinha feito tudo certo, mas como deu errado se culpou.

Ela entrou em desespero, se sentiu idiota por ter sido tão cega todo esse tempo, como não havia percebido todos os erros que cometera?

 Ele foi embora chorando, acreditando que tudo estava perdido.

 Ela se deixou cair no chão e cravou as unhas nos braços, acreditava que aquela dor era merecida.

 Ele se jogou na solidão do seu quarto e quis que as trevas o engolissem, pois o vazio que ela deixou o consumia e torturava, e as lembranças felizes eram demais para ele. Sentiu o ar lhe faltar e os olhos arderem.

 Ela se jogou de costas pela janela do seu quarto, sentiu algo quebrar, mas a dor não foi ao seu encontro, estava entorpecida pela tristeza. Sentiu o gosto metálico do sangue em sua boca e sorriu.

 O mundo dele parou por um segundo e ele sentiu que algo não estava certo. Na visão dela ele apareceu sorrindo como costumava. Dos olhos dele as lágrimas voltaram a escorrer. Os olhos dela se fecharam para sempre com a imagem dele gravada em suas retinas. Na garganta dele um grito se formou por perceber que tudo estava perdido, era tarde demais.






~T.

14.6.13

Vazio





 O tempo passa sem que eu o sinta lá fora, o rastro da luz percorrendo a cerâmica corre sem que eu o note, apenas seu calor em minhas pegadas descalças me faz perceber que o sol fez seu caminho por ali... Estou sempre tão cansada, tem horas no dia que o sono me nocauteia de um jeito, que só percebo que me entreguei quando acordo com o corpo reclamando de frio.

  Minha vida tem se tornado vazia, às vezes até consigo achar algo que me preencha e passe pelo meu olhar holístico, mas o exterior tem esse incrível poder de abafar meus pequenos prazeres, cada vez mais me torno vazia e aquela crosta de gelo que cobria meu coração começa a se formar novamente. Devo ter esquecido alguma janela aberta...

  Ao menos vejo luz em mim novamente quando fecho meus olhos, porém o frio só tem aumentado, onde será que estou errando? Procuro me reencontrar e redescobrir, me focar naquilo que vale a pena e ignorar os alheios que me fazem mal, só que estou de saco cheio da vida. Eu olho para o tempo que se passou e sinto saudade, sinto vontade de voltar a me sentir como antes, mas a minha vontade é de socar a cara dessa vadia sorridente chamada vida que teima em escarnecer-me e provocar.

  Talvez isso que signifique crescer... Não acho que estou ficando rabugenta apenas esgotada. Ainda vejo tudo com um brilho diferente e especial, ainda tenho fé nas minhas crenças e esperanças no todo, só... Só não mais tenho paciência para muitas coisas, minha postura tibetana está se esvaindo e não dou mais a mínima para aqueles pequenos detalhes que antes me eram tão importantes.

  Apenas não queria que a pessoa que eu era e amava desaparecesse assim, como um sonho que lentamente some quando você abre os olhos.


~T.