24.10.15

Por que eu sempre digo que o Brasil está passando pela Idade Média só agora...








  Bom, há anos que não escrevo nada e resolvi postar este texto porque parece que algumas pessoas ainda não entenderam a gravidade das coisas...

 Nós adoramos pensar que estamos no futuro, somos seres evoluídos e que todos estão reclamando de barriga cheia, pois as coisas vão melhores do que nunca e pior mesmo estava nos séculos passados, mas será que ficou tudo no passado mesmo?
 Pretendo fazer uma lista de tudo o que acontece agora que acontecia antes e ninguém parece perceber. Lembrando que não ditarei tudo, apenas os fatos mais marcantes e que mais fazem um "bam" nas nossas carinhas:

 • Impostos: Nós pagamos impostos absurdos em teor de preço e utilidade, o preço real que pagamos pelos produtos é irrisório comparado com o restante que é destinado ao governo. Impostos esses que seriam destinados a cuidar do país, mas que sabemos serem usados de outra forma. Sem mencionar que a desculpa para a super faturação é: "Todo mundo está disposto a pagar mais". O que é exatamente o que acontecia antigamente: "Para bancar minhas festas e estilo de vida vou aumentar os impostos. Não dá para aumentar? Criarei novos!". Uma das poucas diferenças é que não pagamos por termos "nascido sem pedir" ou "morrido sem permissão".

 • Governantes: Estão lá apenas se aproveitando dos frutos do nosso trabalho duro por serem os detentores das terras e nos fazendo acreditar que são muito bons por fazerem comerciais onde dizem estar ajudando a quem precisa. Se aproveitando da ingenuidade dos menos instruídos e fazendo o povo acreditar que o motivo das coisas irem mal é do próprio povo (o que não deixa de ser verdade, pois se quiséssemos mesmo mudança iríamos às ruas), manipulando a informação e mantendo-nos calados com pão e circo ou simplesmente mandando prender aqueles que discordarem de algo. Sem falar em como mandam a milicia para cima dos cidadãos durante as revoltas populares...

 • Importações e o senso de nacionalismo: Fazem-nos acreditar que só o que é bom é o que vem de fora, no entanto não de qualquer lugar, apenas dos países com aliança; deles as coisas vem fácil (produtos, médicos, etc), dos outros eles taxam impostos absurdos para que prefiramos produtos "nacionais" a importados. A riqueza da cultura nacional é apagada, pois como disse anteriormente só o que vem de fora tem valor, o que nos deixa perdidos sem saber de onde viemos e a onde pertencemos, o tal "orgulho de ser brasileiro" só aparece na época da Copa do Mundo (masculina, a feminina não) e durante as Olimpíadas. No restante do tempo não sabemos quem somos e definitivamente não sentimos orgulho algum de sermos daqui. A falta de amor para com nosso país e com aqueles que aqui vivem é o que faz com o deixemos como está e não nos importemos, com tanto que possamos assistir o "Esquenta" depois. 

 • Religião: O país é governado por instituições cristãs que abominam outras práticas religiosas perseguindo-as e tomando decisões no parlamento, criações de leis e distribuição de pitaco no estilo de vida da população. A condenação de outras religiões ainda é tão grande que pessoas são agredidas (física e verbalmente) e mortas todos os dias. Sem falar na criação de um exercito... 

 • Indígenas: Infelizmente outra situação atroz que ainda perdura é a desapropriação dos territórios indígenas, escravização e assassinato. Justamente por serem povos nativos a justiça não os alcança e os casos são tratados com desdém, afinal eles não são "civilizados" e menos ainda catequizados.

 • Direitos da mulher: Nós mulheres já conquistamos muito, mas ainda assim é como se de nada tivesse adiantado. Todos os dias milhares de mulheres sofrem abusos físicos e verbais pelo simples fato de serem mulheres. Ainda somos vistas como propriedade e moeda de troca. Não temos o direito de decidirmos sobre nossos corpos e se sonharmos em pedir ajuda, somos ridicularizadas pelos outros e por aqueles que têm por direito fornecer ajuda. A mulher não passa de um objeto, somos vendidas em comerciais, revistas e para aqueles que pagam aos nossos captores. O tráfico humano para turismo sexual é acobertado pelas autoridades que recebe para ficar calada e é tratada com tabu ou mero mito.

 • Direitos humanos em geral: Em pleno século XXI ainda vemos pessoas serem amarradas a postes (na falta do pelourinho) e espancadas até a morte por delitos, outras serem escravizadas, mulheres sendo agredidas por traição e homens incentivados a não serem fieis. Pessoas literalmente açoitadas por sua opção sexual, por sua cor e status social. A desigualdade gritante de poder e a marginalização das periferias. Se você for de classe alta é um deus, se você for de classe baixa com certeza é bandido e se for de classe média (ou burguês) que Deus tenha piedade de ti, você não passa de um aspirante a rico que é explorado pela classe alta e massacrado pela baixa que não entende porque você consegui subir na vida e ele não. As leis não funcionam para ninguém - além dos milionários é claro. O transporte público também não, há carência na educação - afinal sabedoria é uma coisa perigosa, e o sistema de saúde é mais "doente" do que os que precisam dele. Não há alimento para todos, pois é tudo exportado para outros países, as águas estão poluídas e os tesouros nacionais não são de domínio nacional, e a pedofilia e o estupro são vistos como situações normais e a culpa é das vítimas, dentre vários e vários outros fatores.

 • Milícia: Ainda existem bons profissionais que tentam fazer seu trabalho, mas são impedidos por leis sem cabimento e uma sociedade revolta, enquanto a outra parte é corrupta, tem participação no tráfico de armas, produtos, substâncias ilícitas e pessoas. Obedecem àqueles no comando e por consequência agem pela força bruta e crueldade, muitas vezes faz o seu trabalho bem, mas a negligência faz muitas pessoas questionarem sua real existência...

 • As pessoas: Se julgam criaturas de bem, puritanos e bons cristãos, porém a realidade por trás da máscara de aparências é bem diferente. Vivemos em uma sociedade que até hoje se vê presa a reputação, mas que pelas costas age de outra forma e quando há um escândalo condena e apedreja. A população brasileira (não, não estou falando que todo mundo é assim) é intolerante de todas as formas possíveis: na religião, na opção sexual, na aparência, na cultura popular, com as mulheres, com a cor da pele, com a questão do aborto, transgêneros, preferência política e absolutamente todo o resto! Vivemos de status, conexões, mexericos e tentativas de tornar a vida do outro uma tormenta para passar o tédio do dia-a-dia, nos animamos com tragédias, aplaudimos a violência, sorrimos da desgraça alheia - afinal não foi comigo... E nos alegramos profundamente quando alguém é julgado publicamente. Viramos a cara àqueles que nos pedem ajuda e nos aproveitamos dos que se dispõe a ajudar o próximo, se não pudermos tirar vantagem não há porque demonstrar interesse. Há também os que são instruídos e reclamam por melhorias, e os que são ingênuos e ou enganados pelo governo e caem matando em cima de quem não se deixa enganar pelo "panetone"...

 • Favelas: A parcela pobre da população - que por sinal é a maior parcela de todas, não tendo condições é empurrada para as margens das cidades e forçada a invadir locais vazios e ali construir um cantinho para chamar de seu. Por serem invasões muitas vezes não há esgoto, água encanada, eletricidade, policiamento, atendimento médico e outros recursos básicos. Por não haver quem socorra, a criminalidade toma de conta e todos os que ali vivem são considerados de má índole. Antigamente as vilas é que ficavam à margem nas mesmas condições aqui apresentadas, então quem cometia os crimes era o habitante da vila, o famoso "vilão", já hoje quem comete os delitos é chamado de "favelado". Percebem a semelhança?

 Infelizmente é assim que vivemos em um tempo tão avançado... Presos ao passado e nos recusando a seguir em frente, a notícia boa é que em seguida vem o Renascimento (rsrs), porém isso só será possível quando conseguirmos nos livrar de tudo isso e decidirmos crescer. Ainda há muito que não abordei aqui ou que não me aprofundei muito, mas o texto já ficou enorme e ninguém gosta de material de leitura muito grande. Falei apenas por alto mesmo só para dar uma ideia do assunto em questão. Se alguém se lembrar de mais alguma coisa pode deixar nos comentários e peço encarecidamente aos Haters que nem se deem ao trabalho de vir falar abobrinha, pois denuncio mesmo sem dó nem piedade!

Até mais criaturas do submundo.



~T.

8.6.14

A Floresta do Suicídio




 Caminhou com passos curtos e pesarosos, seus sapatos sujos de lama esmagavam as folhas e galhos no chão enquanto suas mãos tocavam levemente as cascas das árvores em que se apoiava pelo trajeto. Era tão sutil o seu toque que a aspereza dos troncos fazia cócegas em sua mão provocando uma sensação de tranquilidade e paz.

 Andar pela floresta de Aokigahara, também conhecida como Kuroi Jukai (Mar de Árvores), deixava-a calma. Quando pequena, ouviu terríveis histórias sobre o local ser assombrado e ela tinha medo, mas apesar da energia carregada e pesada do lugar, ela se sentia mais calma aos pés do Monte Fuji. Com o passar dos anos, descobriu o real motivo de seus pais não quererem que ela, ou qualquer outra criança se aproximassem de Jukai. É que lá também era conhecido como A Floresta do Suicídio.

 Muitas pessoas vão tirar suas vidas ali, e vez por outra, ela tem a impressão de ver alguém passar por dentre as árvores; talvez seja mais um ser desesperado cansado de sua vida procurando conforto na morte, ou apenas uma alma perdida que não encontrou seu caminho até o Rio Estige, fadada a caminhar eternamente sendo torturada pela a agonia. Mas ela não se importava, apenas gostava do lugar mesmo sem saber ao certo o por quê. Talvez se sentisse mais perto "dele".

  Havia um tempo que ela vinha acampando em Aokigahara. Três dias no máximo? Não sabia dizer, mas também que diferença fazia? Há muito perdera a percepção do mundo e o vazio em seu peito tornara tudo entorpecido e sem sentido, porém, algo dentro dela ainda receava por aquela decisão, por isso amarrara uma fita vermelha pela floresta, caso quisesse encontrar o caminho de volta para casa.

 Cantarolava baixinho uma cantiga de criança como quem não quer perturbar os espíritos que ali descansam, mas também tentando afugentar a tristeza latente enraizada em sua pele e cravada bem fundo no seu coração machucado e cheio de pesar. Chegou à sua barraca e ascendeu a lanterna, ficou alguns minutos sentada batendo nervosamente os dedos nas pernas, até que desistiu e titubeante enfiou a mão dentro de sua mochila agarrando com delicadeza um envelope branco.

 Nele contia fotos dela e de seu falecido namorado, juntamente de uma carta que ele escrevera dias antes de desaparecer em Jukai. Releu pela milésima vez aquelas palavras que já havia decorado e como em todas as vezes o desespero cresceu tomando conta do seu peito. Fartas lágrimas escorreram por seu rosto e mancharam o papel, ela então beijou a carta e a apertou forte contra o coração.

 Eles haviam brigado e ela terminou com ele. Uma briga à toa, mas que o orgulho não permitia voltar atrás, queria torturá-lo um pouco apenas por birra e bateu o pé se recusando a aceitá-lo de volta. Foi quando acordou um dia e percebeu que um envelope havia sido empurrado por debaixo da porta e quando leu seu conteúdo, caiu de joelhos no chão em estado de choque e chorou seu pranto de arrependimento.

 O corpo dele foi encontrado alguns meses depois pendurado em uma árvore. Havia se enforcado e em sua mão estava o anel que ela o presenteara de aniversário. Hoje tendo se passado 2 meses desde o enterro, ela não conseguira encontrar consolo e o sentimento de culpa dilacerava-a, tornando impossível o simples ato de respirar.

 Ela então pegou as pílulas que seu médico receitara para ajudá-la a dormir e engoliu todo o frasco com ajuda de uma das garrafinhas de água que trouxera. Suspirou um suspiro cheio de dor e afastou as lágrimas das bochechas com as mãos, se deitou no colchonete e ficou observando as fotos deles jogadas ao lado de sua cabeça, enquanto tocava a imagem dele com ternura. Não se deu conta quando apagou, não soube quanto tempo levou para ficar inconsciente, não percebeu a vista embaçar nem os olhos pesarem como as pessoas descrevem, não percebeu coisa alguma, apenas uma escuridão que chegou de repente e pareceu durar uma eternidade, depois o rosto sorridente dele surgiu vindo ao seu encontro. Não percebeu que havia partido, apenas se foi...


**Baseado na verdadeira Aokigahara e nas pessoas que vão para lá em busca da sanação de seu sofrimento, essa é minha homenagem a vocês. Espero que de alguma forma saibam que não estavam sozinhas.**




~T.

8.1.14

Amigos







  Eu sei que pode parecer bobo, mas eu gostaria de ter uma daquelas amizades de filme americano. Um grupo de pessoas estranhas e animadas que saem quase todas as noites, passam muito tempo juntas, se divertem, contam tudo umas para as outras, que quando tem um problema resolvem ao invés de ficar de intrigas pelos cantos. Pessoas que não tem medo de dizer que se amam, que não querem tirar proveito umas das outras e que não confundem as coisas. Saem juntas porque se gostam, e não porque estão correndo atrás de um namoro. Sinto falta de ter amigos assim...

  Gosto de imaginar como deve ser ter aquele tipo de cumplicidade que mostram nos filmes, como deve ser ter alguém com quem contar quando você precisar. Pessoas que apareçam no meio da madrugada e te sequestrem para uma festa, ou que fiquem por ai mesmo, sei lá, bebendo na frente da sua casa, conversando na sala ou até dando uma volta monótona pelo parque.

  As pessoas que conheço são muito mesquinhas, interesseiras, infantis e traiçoeiras... Só se preocupam com os próprios problemas e gostam de tentar arranjar problemas para os outros. Não dá exatamente para estabelecer uma relação saudável com esse tipo de gente. Eu admito. Prefiro infinitamente a companhia de um bom amigo à um namorado. Não estou desdenhando das vantagens de um carinho diferenciado, apenas prefiro aqueles que estarão lá por mim quando o "alguém especial" me der um pé na bunda. Sei lá... É chato pensar que nenhum dos meus amigos se importam comigo ao ponto de se preocuparem verdadeiramente.  Ok, eu sei o que vai dizer. Que eu estou sendo ingrata e injusta, que devo dar valor ao que tenho, que não estou enxergando com clareza e blá blá blá. Eu sei que tenho pessoas que se importam comigo, longe de mim dizer que não, mas hoje em dia todos são muito frios e apáticos, olham apenas para seus próprios umbigos.  Eu posso dizer com 100% de certeza que se alguém precisar de mim eu farei de tudo para ajudar essa pessoa, se eu não puder largar o que estiver fazendo para correr até esse alguém, ficarei no telefone tentando ajudar, ou encontrarei alguma forma de dar atenção a quem amo. Digo isso porque já o fiz mais de uma vez, mas não conheço uma única pessoa que faria o mesmo por mim, acredite, já estive várias vezes do outro lado da situação e ninguém ficou ao meu lado.

  Não que você ai se importe, mas era só isso o que eu queria, sabe? Alguém com quem contar. Não estou deixando de levar em consideração que nem todo munto se importa e demonstra da mesma maneira, mas seria legal sentir que tem alguém. As pessoas sempre perguntam qual o maior medo dos outros, e como uma grande fã do Scarecrow, confesso ter uma certa fascinação pelo assunto. Se me perguntassem qual é o meu maior medo eu responderia sem exitar: "Ficar sozinha". Não o ficar sozinha de não me casar ou algo assim, mas o de não ter amigos, família ou ninguém que se importe comigo, e acabar largada sozinha em um apartamento pequeno e me tornar uma Crazy Cat Lady. Rs

  Bem... Creio que ninguém dê a mínima para essa minha lenga lenga, mas antes que reclame que estou bancando a Drama Queen, lembre-se que faço o que bem quero aqui e escrevo o que me der na telha, e no momento sinto vontade de desabafar para um ser imaginário. Sei que tem alguém ai, ou pelo menos espero que tenha e se tiver, que se importe... Emfim. Não desejo que se manisfeste, apenas que leia. Dizem que quando ninguém presta atenção em nós, nos tornamos invisíveis e não quero não existir...

  Sinceramente,




~T.

22.9.13

Relacionamentos

 



  Coisinhas cruéis que de nada servem, minto, servem para te fazer se sentir bem no começo e depois quebram suas pernas e te fazem sentir esgotado, ferido, um lixo e te tiram todas as esperanças e fé em qualquer coisa no mundo. Você perde a vontade de fazer as coisas que gosta, esquece quem é, se rebaixa e se deprime e tudo isso para quê?
  Daí como se não bastasse depois de um tempo sozinho, assim que se supera a fase do "não quero saber de ninguém" e a "não vou me prender, vou ficar com todo mundo", você começa a se sentir sozinho, carente e até vazio, então esquece a dor de cabeça que é dividir sua vida com outra pessoa e cai na burrada de se relacionar novamente. Seres humanos... Somos burros e gostamos de sofrer, essa é a verdade! Mas no fim das contas, até que é um sofrer bom, dependendo do ângulo e do seu nível de masoquismo... Estou aqui reclamando, mas a verdade é que eu sou viciada nessa dor, não gosto de ficar só.
  É... Life sucks!



~T.

21.9.13

Abrir e fechar de olhos

 





  Ao soar do décimo segundo badalar a maldição foi quebrada.
  A pira em seu peito se acendeu, seus olhos se abriram e sua prisão de cristal se partiu em dez mil estilhaços brilhantes. Se sentiu viva. No alto da torre que marca as horas, podia-se perceber uma inquietação, um vulto que desaparecia na forma de fumaça negra, deixando para trás uma rosa vermelha e um verso que se perdeu com o sussurrar do vento de velhos lamentos e desejos não realizados.

  Passos secos partiram a grama amarelada, gritos distantes, depois o silêncio e mais nada. O chão se abriu abaixo de si e tudo o que pôde perceber foi a sensação de cair no vazio fazendo pressão em seu estômago.   Lembrou como era sentir medo e rezou para algum deus antigo pela salvação.

  Ao longe uma ave acorrentada despontou resgatando-a da queda livre, a ave a levou para bem longe de toda a dor e todo o sofrimento. Sentiu-se segura e agradecida, então fechou seus olhos e sorriu. Este foi seu erro, pois não percebeu quando voltou a ficar presa em uma redoma de cristal. Fora pega pela maldição mais uma vez.



~T.

4.7.13

Delírios diurnos






 Uma fina neblina pairava sobre o lago. Fazia muito frio naquela manhã, tanto que o céu estava coberto por densas nuvens e as águas sempre escuras pareciam petróleo, mal dava para ver seu reflexo borrado e a luz parecia ser tragada por aquela imensidão escura. Os pés descalços tocavam a madeira fria do deck, e os braços largados junto ao seu corpo esguio reclamavam  da brisa gelada que lambia sua pele.

 Ela mantinha seus olhos fixos nas pequenas ondas que oscilavam a água, mas sem realmente enxergá-las, seus olhos estavam vazios e sua mente rodeava em antigas lembranças, seu coração estava tão machucado que a dor parecia tê-lo amortecido, é como se ela possuísse um buraco negro no peito, ela mal podia senti-lo, mas ele estava lá junto da dor amortecida, porém presente.

 Havia um nó tão grande em sua garganta que ela pensou que nunca mais conseguiria falar, que se tentasse não sairia som, mas por que iria querer dizer alguma coisa, se suas palavras não podiam ser ouvidas por ninguém? Se elas não poderiam ser ouvidas por quem realmente importava?

 Se aproximou um pouco mais da beirada, sentia uma força estranha a chamando para baixo, uma voz muda que sedutoramente a incitava a se deixar cair."Por que não?" pensou com um sorriso triste quase imperceptível. Seus olhos arderam e ficaram vermelhos, começou a chorar e a soluçar baixinho. Seu lindo rosto se contorceu em uma careta de dor e em sua cabeça uma frase martelava insistente "Eu quero morrer! Eu quero morrer! Eu quero morrer..." assim como a imagem daquele que ela amava, assombrando seus pensamentos e fazendo-na revirar na cama de noite.

 Apertou as unhas nas palmas das mãos até os nós dos dedos ficarem brancos, fechou os olhos com força e sua respiração parou. Os sons ao seu redor foram substituídos por um zumbido e largou o corpo. O mundo rodou mais de vagar e só o que ela pôde sentir, foi o lago a engolir quando se deixou cair; assim que atingiu a água tudo voltou, e a baixa temperatura a pegou desprevenida, sentiu a carne doer, era como ter milhares de agulhas flagelando seu corpo ao mesmo tempo.

 Ficou parada, apenas esperando a morte chegar ao seu encontro, soltou as bolhas e instantaneamente sentiu o ar faltar aos pulmões, mas nada fez. Ela sabia nadar, mas não quis se mover, apenas queria que tudo acabasse logo. Abriu os olhos, mas não conseguia ver nada, apenas sentia os cabelos balançando e tocando seu rosto. "Venha escuridão e me trague, leve-me para outro lugar, onde eu possa não mais existir, onde eu possa esquecer". Sentiu-se cair para a inconsciência, deslizando aos poucos e sorriu fechando novamente os olhos.

 Os abriu de verdade emergindo de um pequeno delírio diurno que tivera. Estava sentada na bancada da janela, e lá fora o sol brilhava com toda a intensidade de que dispunha e seu rosto tornou-se ainda mais triste. Lembrou-se dele e os olhos ficaram úmidos com a vontade de tocá-lo novamente, então sussurrou com a voz rouca de quem ficou muito tempo sem falar:

-Eu só queria que esse pesadelo tivesse fim...



~T.

22.6.13

Insignificância






 Pegou o relógio para ver as horas, mas se esqueceu de realmente olhá-las. Caminhou com as mãos nos bolsos e parte do rosto escondido pelo cachecol, fazia muito frio e o ar gelado feria sua face. Parou por uns instantes em frente a vitrine de uma loja fechada só para analisar seu reflexo, como podia existir tanta tristeza em um só olhar?

 "Você já olhou para cima e se deparou com um céu sem estrelas, e se sentiu tão vazio e insignificante ao ponto de sentir aquela escuridão acima de sua cabeça te tragar e consumir por completo, até não sobrar mais nada? Nem dor, nem sofrimento, nem angústias, mágoas ou corações partidos, somente o nada absoluto e o vazio que o acompanha?" - pensou.

 Continuou sua caminhada para casa passando em frente a um parque, sentiu que aquelas árvores altas e desfolhadas lhe seguiam com olhos invisíveis e tenebrosos, apertou o passo, mas não sentia realmente medo, era apenas o desespero apertando seu peito fazendo o ar lhe faltar.

 Quanto tempo já havia passado? Quanto mais teria que sentir aquilo? Não soube responder, só queria voltar para casa e tomar uma xícara de chá quente, enquanto ainda tinha vontade de algo. Chegou em casa, abriu o registro da banheira, olhou pela janela e observou as luzes das casas se apagarem uma a uma. "Será mais uma longa noite solitária...".



~T.

21.6.13

Tarde demais





 Ele não sabia onde havia errado, e isso o deixava maluco, acreditava que tinha feito tudo certo, mas como deu errado se culpou.

Ela entrou em desespero, se sentiu idiota por ter sido tão cega todo esse tempo, como não havia percebido todos os erros que cometera?

 Ele foi embora chorando, acreditando que tudo estava perdido.

 Ela se deixou cair no chão e cravou as unhas nos braços, acreditava que aquela dor era merecida.

 Ele se jogou na solidão do seu quarto e quis que as trevas o engolissem, pois o vazio que ela deixou o consumia e torturava, e as lembranças felizes eram demais para ele. Sentiu o ar lhe faltar e os olhos arderem.

 Ela se jogou de costas pela janela do seu quarto, sentiu algo quebrar, mas a dor não foi ao seu encontro, estava entorpecida pela tristeza. Sentiu o gosto metálico do sangue em sua boca e sorriu.

 O mundo dele parou por um segundo e ele sentiu que algo não estava certo. Na visão dela ele apareceu sorrindo como costumava. Dos olhos dele as lágrimas voltaram a escorrer. Os olhos dela se fecharam para sempre com a imagem dele gravada em suas retinas. Na garganta dele um grito se formou por perceber que tudo estava perdido, era tarde demais.






~T.

14.6.13

Vazio





 O tempo passa sem que eu o sinta lá fora, o rastro da luz percorrendo a cerâmica corre sem que eu o note, apenas seu calor em minhas pegadas descalças me faz perceber que o sol fez seu caminho por ali... Estou sempre tão cansada, tem horas no dia que o sono me nocauteia de um jeito, que só percebo que me entreguei quando acordo com o corpo reclamando de frio.

  Minha vida tem se tornado vazia, às vezes até consigo achar algo que me preencha e passe pelo meu olhar holístico, mas o exterior tem esse incrível poder de abafar meus pequenos prazeres, cada vez mais me torno vazia e aquela crosta de gelo que cobria meu coração começa a se formar novamente. Devo ter esquecido alguma janela aberta...

  Ao menos vejo luz em mim novamente quando fecho meus olhos, porém o frio só tem aumentado, onde será que estou errando? Procuro me reencontrar e redescobrir, me focar naquilo que vale a pena e ignorar os alheios que me fazem mal, só que estou de saco cheio da vida. Eu olho para o tempo que se passou e sinto saudade, sinto vontade de voltar a me sentir como antes, mas a minha vontade é de socar a cara dessa vadia sorridente chamada vida que teima em escarnecer-me e provocar.

  Talvez isso que signifique crescer... Não acho que estou ficando rabugenta apenas esgotada. Ainda vejo tudo com um brilho diferente e especial, ainda tenho fé nas minhas crenças e esperanças no todo, só... Só não mais tenho paciência para muitas coisas, minha postura tibetana está se esvaindo e não dou mais a mínima para aqueles pequenos detalhes que antes me eram tão importantes.

  Apenas não queria que a pessoa que eu era e amava desaparecesse assim, como um sonho que lentamente some quando você abre os olhos.


~T.

22.4.13

Você aqui





Seu beijo ácido e quente me despertou. Seus olhos, janelas estreladas para o infinito, me prenderam em um turbilhão descompassado, fazendo meu coração dançar ao ritmo de tambores tribais. Seus dedos desenham espirais em minha pele, onde me perco.

Minha mente viaja entre linhas paralelas e o doce som da sua voz me faz estremecer. Já não distinguo a passagem do tempo quando estou longe de você, apenas teu toque tem o poder de me trazer de volta.

Ah teu toque... Uma mistura de sensações, que me faz ir do delírio à inconsciência tântrica em questão de segundos. Meu corpo para de me pertencer e minha cabeça gira, teu cheiro grudado em mim traz calor ao meu peito miúdo e minha pele muda de forma ao deslizar de suas mãos calejadas. Mãos que tem moldado minha vida.

Seu calor me dá vertigens, seu abraço é como um casulo, e nele me perco e demoro à me achar. Sua boca úmida percorre meu pescoço e meus braços correm à tua procura. Sinto que poesias, canções e débeis sussurros não são tão eficientes, as palavras se engasgam e não consigo me expressar bem, me desculpe, mas espero que os gestos lhe sejam suficientes.

Toda vez que te vejo, sinto a maré em mim subir e as ondas se agitarem, porém a calma que me proporciona não condiz com tal cenário. A confusão dentro da minha cabeça é tão grande que este texto está fora de nexo, mas quero que saiba que meu lugar é junto ao teu peito. O único lugar onde me sinto segura, o local onde pertenço.

 Aqui dentro já não está chovendo mais.



~T.